quinta-feira, 21 de agosto de 2008

As relações escola-família: o que diretores, professores, pais e alunos pensam?

Ana da Costa Polonia: As relações escola-família: o que diretores, professores, pais e alunos pensam?(07 de outubro de 2005, Orientadora: Maria Auxiliadora Dessem).

A relação escola-família tem subsidiado discussões no âmbito da psicologia e da educação; entretanto, são poucas as pesquisas que têm investigado as inter-relações entre os papéis da família e da escola, favorecendo a implementação de estratégias que promovam o aprimoramento e a ampliação dos modelos de colaboração entre estes dois ambientes. Este estudo tem como objetivo analisar as relações escola-família, tendo como pilares o Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner e a Perspectiva das Relações Sociais de Hinde. As interações entre diretores de escola, professores, alunos e pais foram investigadas por série escolar (1ª., 5ª. e 8ª. séries), localização da escola (Gama e Plano Piloto) e tipo de integração família-escola (se boa ou regular), administrando-se os seguintes instrumentos: roteiros de entrevistas semi-estruturadas (chefia do Núcleo de Integração Escola-Comunidade e diretores de escola); questionários (professores, alunos e pais); Lista para Assinalar: Eventos da Rotina Escolar (professores e pais); e Roteiro de Observação do Ambiente da Casa. A coleta de dados foi realizada com 391 participantes e constou de cinco etapas: (a) visitas às duas chefias do núcleo de integração escola-comunidade, com a realização de 'Entrevista Semi-Estruturada'; (b) visitas a 16 escolas indicadas pelos chefes de núcleo com aplicação de 'Entrevista Semi-Estruturada aos Diretores' das respectivas escolas'; (c) coleta de dados com 36 professores das 16 escolas, englobando as áreas de atividades (1ª. série) e matemática e português (5ª. e 8ª. séries), que foram submetidos a 'Entrevistas Semi-Estruturadas sobre a Integração Escola-Família', 'Questionário sobre as Atividades Desenvolvidas com os Pais' e 'Lista para Assinalar: Eventos da Rotina Escolar'; (d) aplicação do 'Questionário das Relações Escola-Família' a 244 alunos; (e) visita às famílias de 93 alunos, com a administração de uma 'Entrevista Semi-Estruturada sobre a Integração Família-Escola', um 'Questionário de Caracterização da Família' e uma 'Lista para Assinalar: Eventos da Rotina Escolar'. Todos esses instrumentos foram respondidos por um familiar responsável pelo aluno. Um Roteiro de Observação do Ambiente da Casa foi preenchido pelo pesquisador/auxiliares. Os diretores das escolas classificaram a freqüência dos pais à escola como 'boa' e ressaltaram que a forma de comunicação adotada em sua escola facilitava a integração escola-família, sendo professores e alunos responsáveis por intermediar a comunicação. Os professores relataram que os pais participavam e acompanhavam as atividades dos filhos na escola, mas que sua participação reduzia à medida que o aluno avançava na série, o que foi justificado pelo desenvolvimento de autonomia e independência do filho. De acordo com os relatos de diretores e professores, a escola e a família estão buscando formas de integração que não se restrinjam apenas aos momentos de orientação, mas que englobem uma diversidade de situações conjuntas e de colaboração. O compartilhamento de idéias, as concepções e as ações pedagógicas conjuntas favorecem, na opinião deles, um maior grau de envolvimento dos pais com a escola. Os alunos, por sua vez, relataram que seus pais não participavam apenas das atividades direcionadas à área acadêmica, mas também daquelas de cunho sócio-cultural. A valorização da participação dos pais, reuniões dinâmicas e com temas de seu interesse e o estímulo à colaboração foram algumas das estratégias apontadas pelos alunos para o sucesso da parceria família-escola. No entanto, os pais relataram maior preocupação e envolvimento com o processo de avaliação acadêmica do filho. Quando comparados os dados de escolas classificadas como tendo boa integração e integração regular, os diretores destacaram que os pais da primeira eram mais participativos e presentes às reuniões programadas e os professores disseram predominar as relações diádicas nas escolas com integração regular e as triádicas nas escolas com boa integração. Os alunos de escolas com boa integração afirmaram 'gostar' mais de sua escola, enquanto os de escolas com integração regular afirmaram 'não gostar'. Quando contrastadas as localidades, na opinião dos diretores, os pais do Gama se destacaram como mais participativos; mas, para os alunos, são os pais do Plano Piloto que têm uma 'boa' participação. As diferenças encontradas por séries revelam que os alunos da 1ª. série gostam de sua escola pela qualidade de ensino e infra-estrutura física e que seus pais são mais participativos. Na 5ª. série, os pais estão presentes às reuniões/conselhos de classe e os alunos gostam da escola pela qualidade de ensino. Já, os alunos da 8ª. série se destacam por intermediar a comunicação escola-família e por enfatizar as necessidades de relações humanizadas na escola. Os resultados são discutidos em termos de fatores que favorecem e impedem uma boa integração entre a família e a escola e dos desafios a serem enfrentados e superados por ambos os segmentos. Um desses desafios é a visão dos pais ainda centrada no rendimento acadêmico do filho, que restringe a sua inserção e, conseqüentemente, o seu envolvimento na escola. Por outro lado, a percepção de diretores, professores, alunos e dos próprios pais dificulta esta integração, na medida em que eles não acreditam na interferência positiva dos pais em ações pedagógicas. Portanto, faz-se necessário reconhecer e adotar estratégias que visem à aproximação escola-família e implementar modelos de colaboração apropriados à comunidade escolar.

Palavras-chave: família, escola, modelo bioecológico de Bronfenbrenner, relações pais-escola, integração família-escola.

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